Enquanto houver sobra
Haverá poesia
Meu verso é rimado
Com o que resta do dia.
Se houver ausência
As palavras com sua presença
Vão preencher o vazio
E acalmar a tormenta.
Quando em mim não houver
O que falte e o que carece completar
Estarei morta.
Já não terei o que rimar!
Sem rima e sem verso
Num equilíbrio cheio de tédio.
Serei um morto vivo,
Sustentado por remédio.
A luz não há de me bastar,
O sol não há de me esquentar.
Restará apenas uma caixa antiga
Cheia de fotos e vida.
A vida que encheu meus pulmões,
Está intacta no papel,
Não necessito mais ficar
Aguardo o inferno ou o céu.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Reflexões de uma aula de química
Procuro um profissional
bom de dar sumiço.
Tenho dinheiro e vou pagar,
meu dinheiro é fruto disso!
Encomendo um homem
capaz de sequestrar,
mas não é pra pegar gente,
gente não carece levar.
Quero que prendam Gás Carbônico!
Tão mal pro meu coração!
Preciso acabar com ele,
antes que encha meu pulmão.
bom de dar sumiço.
Tenho dinheiro e vou pagar,
meu dinheiro é fruto disso!
Encomendo um homem
capaz de sequestrar,
mas não é pra pegar gente,
gente não carece levar.
Quero que prendam Gás Carbônico!
Tão mal pro meu coração!
Preciso acabar com ele,
antes que encha meu pulmão.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Receita de um cidadão
Gente é tudo bicho estranho mãe, minha professora me contou. Triste eu tô, agora que sei mãe, que tudo até hoje foi nada. Sabe esse discurso que a gente vê na televisão?! É tudo combinado pra enganar a gente, pra fazer a gente trabalhar pro resto da vida. Eu tenho medo mãe.
A mãe que ouvia tudo calada resolveu dar sua contribuição. Larga disso moleque, larga disso! Não é coisa pra gente como a gente!!! Vamo ficá aqui quieto e larga disso.
Um medo maior assombrou os olhos do menino. O mundo estava assim, porque a maioria, como sua mãe, se mantinha a salvo no silêncio. Ele realmente não entendia como alguém, sabendo o certo, poderia decidir-se a fazer o errado. Todas as idéias giravam em sua cabeça, sua cabeça girava em torno das idéias. Idéias. Meu Deus, até hoje ele nunca havia parado para pensar quais seriam as suas idéias. Mas o que havia de ter? Não tinha nada, fazia como sua mãe lhe ensinara, se movimentava como uma máquina. O pensamento era para os bravos que sabiam lutar. Após o turbilhão se acalmar, o menino voltou a soltar palavras. Mãe, ô mãe (chamou a última vez porque a mãe cochilava), porque que a senhora não toma um lado? Num defende nóis que até fome já passamo?
A mãe, ainda envolvida pelo sono, começou a responder. Fio, na escola a gente aprende mais que a gente precisa; eles devia era de ensiná o silêncio. Nóis, que é pobre...
Antes que a mãe terminasse a frase o telejornal chegava ao fim, para dar início a única diversão diária da mulher, a novela. Eta novela boa! Ela via suas dores na mulher pobre e seus sonhos na rica. Ô esperança que ela sentia. Não havia um dia que ela não pensasse em ser aquela personagem. Mal sabia ela que para conseguir teria de ir contra o conselho que dera ao filho, o silêncio.
A pergunta ficou por responder, e ai do menino se chamasse a mãe.
Ele ficou imóvel por alguns minutos, pensando. Jamais retornaria ao assunto com a mãe. Não queria mais lacunas. Não queria conselhos inúteis. O que desejava mesmo era ser alguém, pois até aquele dia, tinha sido nada mais que ninguém. Não queria pão e circo. Não seria palhaço ou burro de carga. Ele seria mais, muito mais, que a gente mencionada por sua professora. Ele seria homem!
A mãe que ouvia tudo calada resolveu dar sua contribuição. Larga disso moleque, larga disso! Não é coisa pra gente como a gente!!! Vamo ficá aqui quieto e larga disso.
Um medo maior assombrou os olhos do menino. O mundo estava assim, porque a maioria, como sua mãe, se mantinha a salvo no silêncio. Ele realmente não entendia como alguém, sabendo o certo, poderia decidir-se a fazer o errado. Todas as idéias giravam em sua cabeça, sua cabeça girava em torno das idéias. Idéias. Meu Deus, até hoje ele nunca havia parado para pensar quais seriam as suas idéias. Mas o que havia de ter? Não tinha nada, fazia como sua mãe lhe ensinara, se movimentava como uma máquina. O pensamento era para os bravos que sabiam lutar. Após o turbilhão se acalmar, o menino voltou a soltar palavras. Mãe, ô mãe (chamou a última vez porque a mãe cochilava), porque que a senhora não toma um lado? Num defende nóis que até fome já passamo?
A mãe, ainda envolvida pelo sono, começou a responder. Fio, na escola a gente aprende mais que a gente precisa; eles devia era de ensiná o silêncio. Nóis, que é pobre...
Antes que a mãe terminasse a frase o telejornal chegava ao fim, para dar início a única diversão diária da mulher, a novela. Eta novela boa! Ela via suas dores na mulher pobre e seus sonhos na rica. Ô esperança que ela sentia. Não havia um dia que ela não pensasse em ser aquela personagem. Mal sabia ela que para conseguir teria de ir contra o conselho que dera ao filho, o silêncio.
A pergunta ficou por responder, e ai do menino se chamasse a mãe.
Ele ficou imóvel por alguns minutos, pensando. Jamais retornaria ao assunto com a mãe. Não queria mais lacunas. Não queria conselhos inúteis. O que desejava mesmo era ser alguém, pois até aquele dia, tinha sido nada mais que ninguém. Não queria pão e circo. Não seria palhaço ou burro de carga. Ele seria mais, muito mais, que a gente mencionada por sua professora. Ele seria homem!
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